Em um artigo para a revista Revista Melhore, de 2005, o professor Aino Victor Ávila Jacques descreve as origens da raça Devon:
“O Devon está entre as raças de corte mais antigas que existem no mundo. Quando se fala em Devon, ao invés de séculos deveríamos nos referir a milênios. Clive Thorton no seu livro “Os Rubis Vermelhos – A história do Gado da Raça Devon – buscou evidências que datam de 7.000 a 10.000 anos atrás, quando os Fenícios estiveram na Europa, entrando pela península Ibérica, e ocupando também o sudoeste da Inglaterra.
Assim, é uma raça que foi submetida a uma seleção rigorosa durante muito tempo, tendo que competir sempre com as raças que surgiram mais tarde. Somente o fato de ser uma raça muito antiga já nos remete para sua capacidade de adaptação aos diferentes ambientes através dos tempos. E adaptação é um ponto forte no Devon, sem dúvida”.
O Devon é uma das raças mais antigas do Reino Unido. Sem dúvida, é uma raça indígena do sudoeste da Inglaterra. É curioso notar que a primeira referência à mesma a situa em Cornwall e não em Devonshire. Housman sustenta a opinião que a origem da raça na Inglaterra remonta à época das expedições dos Fenícios em busca de estanho na região de Cornwall.
A raça tem mudado consideravelmente nos últimos 100 anos. Entretanto, muitos dos animais registrados são descendentes diretos dos primeiros animais registrados por Davy no primeiro Livro Genealógico, publicado em 1850, e que pertencia a famílias que já criavam Devon há 150 anos, segundo elas mesmas.
No século XVIII, o Devon começou a expandir-se do oeste do Reino Unido. Garrard, famoso escultor inglês de animais domésticos, descreveu o Devon como a mais perfeita raça na Grã-Bretanha. Foi provavelmente Thomas William Coke, de Holkham Hall, Norfolk, no outro lado da Inglaterra, que mais introduziu o Devon em seu condado. O famoso criador, que teve a idéia de unir as raças Norfolk e Suffolk em uma só raça, o Red Poll, foi influenciado pelo Duque de Bedford a trazer os pequenos e econômicos animais da raça Devon para esses condados.
No século XIX o Devon foi cuidadosamente cruzado com zebus indianos visando a formação de raças adaptadas ao clima tropical. Essas raças são Jamaica Red, Bravon, Makaweli e Santa Gabriela. Esta, por sua vez, está sendo usada para melhorar algumas raças bovinas japonesas.
A respeito de sua origem em Exmoor, o Devon tem provado ser tolerante a climas quentes, sendo hoje criado extensivamente na Austrália, Nova Zelândia, USA, Brasil e Jamaica. Esta habilidade em tolerar bem ao calor tem encorajado alguns pesquisadores a imaginar uma possível relação entre o Devon e o gado indiano levado ao sudoeste da Inglaterra há muito tempo atrás. Outros, porém, relacionam o Devon ao Salers da França.
No início do século XIX, o Devon foi exportado para a Tasmânia e para a Austrália, até que restrições sanitárias colocaram fim as importações. O Devon teve mais de um século para mostrar seu valor em ambientes como Queensland, New South Wales e no seco e quente noroeste do oeste australiano.
No século XIX, em Queensland, o Devon produziu tanta carne por acre quanto o Hereford ou o Shorthorn e também produziu uma boa proporção de carne magra quando cruzado com o Shorthorn. Alguns dos rebanhos ingleses eram usados para produzir leite, mas as suas antigas características leiteiras foram negligenciadas. Entretanto, o rebanho original que acompanhou a família Pilgrim do porto de Plymonth em Devon no ano de 1623 para provê-los de leite, queijo e manteiga durante sua viagem para a América, continuaram a produzi-los quando eles colonizaram o continente americano. Existe uma raça chamada Milking Devon em Massachusets, que é muito semelhante ao tipo original do gado Devon do século XVII, sendo portanto um valioso banco genético.
Em 1960 a raça foi exportada para o Canadá. Ela vive em altitudes de 1.400 metros na face leste das Montanhas Rochosas com duros invernos e poucos abrigos. O Devon também, vive no Kenya, em uma fazenda a 1.800 metros de altitude, localizada em em uma savana úmida, onde a raça é usada para melhorar o gado nativo.
Devon no Brasil
Os primeiros exemplares P.O. Devon, vieram para o Brasil em 1906, importados da cabanha Lorrine do Dr. G.J French do Uruguai. Foi Joaquim Francisco de Assis Brasil (1857-1938) quem importou as primeiras quarenta novilhas Devon, e mais tarde importou outros animais diretamente da Inglaterra. Foram enviados para a sua Estância em Pedras Altas e depois para Alegrete, ambas no Rio Grande do Sul.
Mais detalhes sobre a introdução da raça Devon no Brasil podem ser obtidos no artigo escrito por Amilton Cardoso Elias, publicado no anuário Devon 2016 (link).
BIBLIOGRAFIA
Livros Genealógicos – Associação Nacional de Criadores “Herd-Book Collares” – Pelotas, RS.
Livros Genealógicos – Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio – Diretoria da Produção Animal – Registro Genealógico dos Gados Riograndenses.
Contribuição ao Estudo da Raça Devon no Rio Grande do Sul – Luiz Fernando Cirne Lima – Gráfica Editora Santa Maria – Porto Alegre – R.G.S. – 1956.
Pedras Altas – A Vida no Campo Segundo Assis Brasil – Carlos Reverbel – L&PM Editores Ltda. – Porto Alegre, RS – Outono de 1984.
J. F. de Assis Brasil – Paulo Brossard de Souza Pinto – 2. Ed. Porto Alegre: EST, 2004.